Aedes transgênicos |
É um experimento com mosquitos geneticamente modificados, com as cores azul, laranja, rosa e amarelo, são conhecidos como 'Aedes do Bem'. São Aedes Aegypti transgênicos. O experimento é feito na cidade de Piracicaba (SP) desde abril de 2015, surpreendendo os moradores que não foram avisados sobre a realização. Tem o objetivo de tornar os mosquitos, utilizados para combater a disseminação do Zika, e também da Dengue e Chikungunya, resistentes.
É o OX513A, que foi criado em 2002 pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, financiado pela Oxitec. Ele é idêntico ao Aedes Aegypti - exceto por dois genes modificados, colocados pelo homem. Um deles faz as larvas do mosquito brilharem sob uma luz especial (para que elas possam ser identificadas por cientistas), o outro é uma espécie de bomba-relógio, que mata os filhotes do mosquito. A ideia é que ele seja solto na natureza, se reproduza com as fêmeas de Aedes e tenha filhotes defeituosos - que morrem muito rápido, antes de chegar à idade adulta – no máximo 4% das larvas chegam à vida adulta, e por isso não conseguem se reproduzir. Com o tempo, esse processo vai reduzindo a população da espécie, até extingui-la.
O experimento é bastante polêmico e de eficácia questionável tanto quanto os possíveis efeitos colaterais, e a incerteza sobre a reação do mosquito modificado no meio ambiente. Cientistas temem que abra caminho para o mosquito Aedes albopictus, mais eficiente na transmissão de doenças como a chikungunya, malária e febre amarela.
"O albopictus já foi o principal fator de transmissão da dengue. E pode voltar. E a natureza ensina que não há vazio. Se um mosquito sai, entra outro", diz o ex-conselheiro da CTNBio Leonardo Melgarejo, professor do mestrado profissional em agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina.
"E, o que aconteceria? A empresa criaria um transgênico de outro mosquito para as prefeituras comprarem novamente, num ciclo sem fim?", questiona ele, que também se manifestou contra a liberação do inseto transgênico para comercialização durante seu mandato de conselheiro na CTNBio.
A Oxitec afirma não ter identificado entrada do albopictus no lugar do aegypti. "Isso foi estudado recentemente no Panamá e não houve evidências de substituição. Resultados obtidos em um estudo em andamento em Piracicaba, onde o Aedes albopictus está presente, mostram evidências insuficientes de que o Aedes aegypti será substituído", disse Hadyn Parry, chefe-executivo da Oxitec.
"A população não pode ser cobaia", critica o biólogo José Maria Ferraz, conselheiro da CTNBio à época em que o órgão inicialmente examinou o OX513A. "Não somos contra modificações genéticas. Somos contra a forma apressada como a liberação foi feita", diz ele, que também assinou a petição enviada ao Ministério Público em Piracicaba.
Dezoito conselheiros votaram na sessão de 10 de abril de 2014 da CTNBio que liberou o mosquito transgênico – 16 a favor, um contra e uma abstenção.
Pesquisador convidado do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp, Ferraz diz que a liberação do uso comercial do OX513A pelo órgão foi "obscura" e, segundo ele, levou a metade dos 5 anos pelos quais normalmente pedidos como este tramitam.
Para medir a eficácia do projeto em reduzir a população do mosquito, a proliferação do Aedes foi comparada em dois pontos diferentes da cidade de Piracicaba, a 1,5 km de distância, onde havia infestação. Comparou-se a quantidade de larvas selvagens em dezembro 2015 na área tratada e o número foi dividido pela área controle. Depois, a quantidade de larvas selvagens em abril 2015 na área tratada foi dividida pela quantidade na área controle. A diferença entre essas duas medidas é que apontou redução de 82%.
“Os mapas dos níveis de infestação mostram que as liberações contínuas do 'Aedes aegypti do Bem' estão prevenindo a explosão populacional do mosquito selvagem que, em geral, acompanha a estação chuvosa”, afirmou Glen Slade, diretor da Oxitec no Brasil, em comunicado.
Em outros testes que realizou antes de Piracicaba, a empresa também relata ter tido bons resultados. Em Juazeiro (BA), um teste feito em um bairro na periferia da cidade, e teve uma redução de 80% na população de larvas de Aedes aegypti. Foi medida também a população de mosquitos alados adultos, e a redução foi ainda maior: 95%.
Os resultados foram descritos num estudo que passou por revisão independente e foi publicado na revista “PLoS Neglected Tropical Diseases” em julho de 2015.
Em 2010, um teste nas ilhas Cayman, no Caribe, também obteve sucesso, com redução de 82% na população do mosquito. Um teste em Jacobina (BA) relatou redução de 79%.
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